A pérola e a ostra*
(para Adiléia Silva da Rocha)
O amor que te tenho,
Que tanto lhe é estranho,
Já estava em mim,
Adormecido,
Esperando a tua entrada triunfal,
Na minha vida obscura.
Sim,
Sou um homem obscuro
Que destilou a vida
Nos guetos,
De bares sujos,
Na periferia decadente,
De gente esquecida.
Comungo a dor dos miseráveis...
A minha poesia mesmo
Nasce
Do embrutecimento,
Dos esconderijos,
Da ausência de remédio.
Aliás, ela mesma
Único remédio.
Posso entender a tua incompreensão
e até o teu escárnio.
Um homem obscuro
Que aprendeu a ler a vida
Onde ela se apresenta mais furtiva,
Onde ela foi mais negada.
A dor em todas as suas vertentes
É-me alimento
(O brilho furtivo da pérola),
À medida que extraio dela
A essência da vida.
O amor que te tenho
Que talvez você nunca entenda
E tão pouco queira
Retorna a mim,
Flui em mim
E me justifica.
O amor que te tenho
Atravessa as máscaras,
Atravessa o escândalo,
Atravessa as palavras
E o silêncio...
E descansa no eterno.
O amor que te tenho,
Se pode te servir de consolo,
Não precisa de ti.
*Poema enviado ao tyrannus pelo autor, atendendo a reivindicação do site
Dante Gatto, poeta brasileiro